A ideia de que os bebês são manipuladores e devem ser deixados chorando tem raízes profundas na história da parentalidade, sendo amplamente disseminada por especialistas que, durante séculos, ditaram regras rígidas para o cuidado infantil. Essa abordagem, muitas vezes pautada em controle e disciplina, começou a se consolidar a partir do século XIX, quando médicos, clérigos e eruditos passaram a influenciar diretamente o comportamento materno por meio de livros e guias domésticos.
De onde vem a crença de que é preciso deixar o bebê chorar
No livro “Pais e Mães Perfeitos”, Christina Hardyment analisa a evolução desses conselhos e destaca como, historicamente, as mães foram instruídas a regular rigorosamente o comportamento de seus bebês. A crença de que o choro era um simples capricho infantil e deveria ser ignorado se tornou um pilar da educação rígida promovida por esses especialistas. Por exemplo, um dos manuais da época aconselhava: “Se, pouco depois do nascimento, isto é, cerca da segunda semana, se deixar os bebês adormecerem sozinhos no berço, de modo a descobrirem que não conseguem levar a sua avante através do choro, os bebês ficam calmos definitivamente, e, passado algum tempo, preferirão estar no berço a estar ao colo”. Além disso, argumentava-se que o choro era um exercício necessário, reforçando a ideia de que atender prontamente às necessidades do bebê poderia torná-lo “mimado” ou “manipulador”.

Um dos nomes mais influentes nesse movimento foi o Dr. Truby King, um médico neozelandês que, no início do século XX, promoveu um método rigoroso de cuidado infantil. Ele defendia horários rígidos para alimentação e sono, desestimulava o contato excessivo entre mãe e bebê e desencorajava o atendimento imediato ao choro da criança. Segundo King, atender ao bebê fora dos horários pré-estabelecidos criaria hábitos prejudiciais, tornando-o “fraco” e “dependente”. Seu método, amplamente difundido em países de língua inglesa, influenciou gerações de pais e profissionais da saúde.
Como a neurociência veio derrubar o mito do bebê manipulador
No entanto, ao longo do século XX, a ciência começou a desmontar essas crenças. Estudos na área da psicologia do desenvolvimento, neurociência e teoria do apego demonstraram que o choro do bebê é uma forma de comunicação legítima e que a resposta sensível dos cuidadores é essencial para o desenvolvimento emocional e cognitivo saudável da criança. Hoje, compreende-se que o contato físico, a prontidão na resposta ao choro e o vínculo seguro entre mãe e bebê são fundamentais para um crescimento equilibrado.
Apesar dessas evidências, ainda encontramos vestígios da mentalidade “anti absurdo” na parentalidade moderna. Muitas famílias continuam a ouvir conselhos que reforçam a ideia de que o bebê manipula os pais com o choro ou que atendê-lo prontamente resultará em uma criança dependente.
Desconstruir esses mitos e resgatar a intuição materna e paterna, apoiada pelo conhecimento científico, é essencial para garantir um cuidado respeitoso e amoroso para os bebês de hoje.